A
Espiritualidade afirma que, quando de sua volta para o mundo dos
Espíritos, a alma conserva as percepções que tinha quando encarnada na
Terra, e que desabrocham-lhes outras, porque o corpo funciona como um
véu, obscurecendo-a.
Sobre
esta questão, Allan Kardec realizou em “O Livro dos Espíritos”, um
estudo denominado: “Ensaio Teórico da Sensação nos Espíritos”. Devido à
importância do tema e da profundidade deste estudo realizado pelo
Codificador, vamos fazer um resumo do mesmo, mas deixando claro que para
uma boa compreensão do tema, melhor seria um estudo completo do texto
que corresponde à questão 257 da obra citada.
O corpo é o instrumento da dor. Se não é a causa primária desta, é pelo menos, a causa imediata.
A alma tem a percepção da dor, mas essa percepção é o efeito.
Apesar
de que esta percepção é muitas das vezes dolorosa, podemos afirmar que
ela não é física. Ilustramos com um exemplo dado por Kardec: A simples
lembrança de uma dor física, pode produzir o efeito da mesma, mesmo que
no momento não haja motivo para tal. Isso ocorre porque o cérebro
guardou esta impressão, e o perispírito como elemento de ligação entre o
Espírito e o corpo, transmite do primeiro para o segundo, impressões, e
no sentido contrário, sensações. Resumindo, concluímos que o
perispírito é o agente das sensações exteriores.
Quando encarnado, o Espírito tem o sentido dessas sensações no corpo, quando este é destruído, elas se tornam gerais.
Sabemos
que no Espírito há percepção, sensação, audição, visão, e que essas
faculdades são atributos do ser todo e não, como no homem, de uma parte
apenas.
A
dor, como já dissemos, não é propriamente física, ainda que muitas
vezes o Espírito a reclama ou diz que sente frio ou calor. Entendemos
que, apesar de muitas vezes ser bastante penosa, ela é mais uma
reminiscência do que uma realidade. Entretanto algumas vezes há mais do
que isso, como apresenta o ilustre pensador lionês.
A
experiência mostra que o perispírito, quando da desencarnação, não se
desprende rapidamente da maneira que a maioria supõe, e devido a esta
ligação, muitas vezes o Espírito crê-se vivo; vê seu corpo ao lado, sabe
que lhe pertence, mas não compreende que esteja separado dele. Essa
situação normalmente dura enquanto existe a ligação entre os corpos
físico e espiritual.
Relata
Kardec o exemplo de um suicida: “Disse-nos certa vez um suicida: Não
estou morto, no entanto sinto os vermes a me roerem”. É obvio que os
vermes não lhe roíam o perispírito, e muito menos o Espírito. O que eles
roíam era o corpo, mas como não havia uma completa separação do corpo e
do perispírito, ele tinha uma impressão quase física do que estava
acontecendo. Era uma ilusão, não uma realidade, embora o sentimento
parecesse real. Neste caso não podemos dizer que o que ele sentia era
uma reminiscência, conclui Kardec, porquanto ele não fora em vida, roído
pelos vermes: havia o sentimento de um fato da atualidade. Isto nos
favorece uma gama de ensinamentos muito importantes, se observarmos
atentamente os fatos.
Sobre
os Espíritos superiores, o Codificador nos informa que eles não sentem
nenhuma influência da matéria. Não sentindo dor ou qualquer sentimento
originado por este elemento. O som dos nossos instrumentos, o perfume
das nossas flores nenhuma impressão lhes causam. Entretanto, eles
experimentam sensações íntimas, de um encanto indefinível, das quais
idéia alguma podemos formar, porque a esse respeito, somos quais cegos
de nascença diante da luz.
Quando
Kardec afirma que os Espíritos são inacessíveis às impressões da
matéria que conhecemos, se refere aos Espíritos muito elevados, cujo
envoltório etéreo não encontra analogia neste mundo. Quanto aos mais
atrasados, cujo perispírito é mais denso, percebem os sons, os odores,
etc., porém, apenas por uma parte limitada de suas individualidades,
conforme quando encarnados.
Esta
teoria pode trazer alguma frustração para aqueles que pensavam que o
sofrimento e as dores terminariam com a destruição do corpo físico, mas
notamos que ela é bem lógica e expressa a justiça do Criador, na medida
em que vincula o sofrer do Espírito à maneira vivida por ele, quando
encarnado. Se procuramos na vida terrena somente a satisfação dos gozos
materiais, vamos encontrar um sofrimento a posteriori. Toda via, se a
vida para os valores do Espírito imortal, é a nossa busca, seremos
tranqüilamente bem-aventurados, pois atingiremos aquele estado em que
Jesus disse: Bem aventurados os limpos de coração, porque eles verão a
Deus.
Podemos
concluir, então, que pode haver sofrimento por parte do Espírito no
plano espiritual, mas este sofrimento será sempre menor à medida que nos
elevarmos moralmente.
Meditemos portanto nas palavras daquele que é o “Mestre dos mestres, o Sábio dos sábios”:
“Não
ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e
onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai tesouros no céu, onde os
ladrões não minam nem roubam.” (Mateus, 6: 19 e 20)
Livro: Apostila do Curso de Espiritismo e Evangelho
Centro Espírita Amor e Caridade - Goiânia – GO - 1997
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