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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

No Cristianismo primitivo, a fé representava o elo de perfeita identificação da criatura renovada com Jesus.

A fim de confirmá-lo, ninguém se escusava ao martírio, sendo que, em algumas circunstâncias, buscavam-no jubilosamente.

A coroa do holocausto constituía honra não merecida, graças à qual não havia recusa à fidelidade nem recuo na direção da apostasia.

Os casos que ocorriam, muito raros, aliás, representavam a variedade dos caracteres que distinguem as criaturas humanas e aos crentes ainda não convencidos da alta magnitude da conversão, o direito de preservar o corpo, fugindo ao testemunho então exigido...

O que impressiona, ao recordar-se daqueles mártires, é a coragem defluente da aceitação do Mestre, muitas vezes, aos primeiros contatos com a fé libertadora, e sem muito tempo que houvesse sido dedicado à reflexão. É como se aguardassem a Sua mensagem que, ao ser percebida, diluía toda a sombra da ignorância, facultando o entendimento real do significado da existência terrestre.

Ouvindo a palavra de consolo e as expectativas a respeito do reino de Deus, os corações renovavam-se e a vida, antes destituída de valor, adquiria um sentido surpreendente, arrebatando o Espírito e renovando-o.

À semelhança de prisioneiros no corpo físico, ao tomarem conhecimento do Evangelho, rompiam-se-lhe os ergástulos vigorosos ante as poderosas lições do pensamento de Jesus.

O martírio era recebido com hinos de louvor e júbilos, mesmo que a debilidade emocional, às vezes, gerasse pavor e lágrimas, no abismo a que eram atiradas as vítimas da crueldade. O momento do sacrifício era encarado como instante em que se aureolavam de tudo quanto os sentimentos nobres aguardavam felicitando-os.

Ante essa desconhecida energia que vitalizava os mártires, os seus algozes mais se enfureciam, aplicando mais terríveis azorragues e punições que, de forma alguma, quebrantava-lhes o ânimo. Pelo contrário, quanto mais açoites e ondas de ódio, mais resignação e misericórdia mantinham em relação aos sicários implacáveis. Essa reação de amor os desequilibrava, porque eles aguardavam a presença do ódio a que estavam acostumados nas refregas da inferioridade moral a que se entregavam.

Jesus, desde quando passava a ser conhecido, mudava-lhes completamente os conceitos existenciais e o sentido psicológico em torno da vida.

A aspiração pela independência do corpo, a fim de ser fruída a liberdade total, fascinava-os e os conduzia aos piores tipos de execução com o rosto iluminado pela esperança de plenitude.

Deixavam-se entranhar pelas sublimes lições de amor ensinadas pelo Amigo Sublime, e experimentavam o suave-doce encantamento da paz que passavam a sentir, adornando-se da alegria imortalista.

Jesus conquistava-os plenamente e eles deixavam-se conduzir em totalidade pelo enlevo e encantamento da Sua mensagem.

Foi esse estoicismo invulgar, dantes e depois jamais igualado, que inscreveu nas páginas da História a presença insofismável e inapagável de Jesus.

* * *

Com a adesão da fé cristã à política infeliz do Império Romano e com a formulação engessadora nos dogmas, deixou de arder nos corações e de iluminar as mentes, para transformar-se a crença em entidade terrena poderosa, na qual o poder tornava-se essencial em detrimento do amor sublime que a caracterizava.

Mediante a alteração dos objetivos, a troca do reino dos Céus pelas ilusões e glórias mentirosas de César no mundo, o combustível poderoso da fé escasseou e a convicção cedeu lugar às conveniências humanas.

Salvadas algumas exceções, que foram os mártires de todos os empós, os discípulos de Jesus, na atualidade, pouco diferem daqueles que O não aceitam.

As perseguições, antes sofridas, passaram a ser infligidas por eles próprios aos outros, que se lhes opunham, ante a fascinação das conquistas e louvaminhas humanas. A vida espiritual cedeu lugar ao luxo e à prepotência, à dominação e à arbitrariedade.

Quando esmaeceu quase totalmente ante os camartelos da Ciência, que a tem desprezado, face ao comportamento dos que se diziam discípulos de Jesus, então escassos de servidores fiéis e abnegados, o vazio existencial tomou conta da sociedade, gerando desequilíbrios e alucinações.

Nesse comenos de dor e de amargura, o Consolador chegou à Terra e reacendeu a chama da verdade, arrancando-a dos dogmas ultramontanos e reativando a pulcritude dos ensinamentos incomparáveis do Mártir do Gólgota...

Novos cometimentos de amor passaram a surgir nos grupos sociais convidados à reflexão pelos Espíritos abnegados que voltaram ao mundo como estrelas apontando rumos e convidando à caridade consoladora, que agora passa a despertar o interesse dos novos discípulos do Evangelho.

Nada obstante, ante a implacável força do materialismo e do utilitarismo, a debandada de inúmeros servidores da Terceira Revelação, atirando-se às multidões do prazer e do gozar, é lamentável e devastadora ocorrência não esperada.

Por mais sejam demonstradas as faces nobres da imortalidade do Espírito, as conveniências sociais e as vaidades humanas dominam aqueles que deveriam se dedicar à renovação e ao trabalho de construção do mundo feliz.

Ninguém deseja qualquer testemunho, nos dias atuais, e ante a dor natural, o sofrimento de qualquer natureza, de imediato deseja-se solução mágica, a golpe de interferência do sobrenatural, gerando uma comunidade que seria privilegiada e diferente.

Não se deseja nenhuma dor, no entanto, devedora como é a criatura humana, prefere transferi-la para o além da morte ou para futuros renascimentos, como se fora possível evitar-se o processo de evolução, por comodidade.

A Doutrina Espírita, entretanto, ensina que os lances de provas e angústias fazem parte do mecanismo de reabilitação e desenvolvimento intelecto-moral, na busca da libertação total.

A dor é, ainda, o abençoado recurso de despertamento do ser humano que, meditando, encontra os melhores métodos para a vitória sobre as paixões do ego.

* * *

Não te permitas confundir, quando convidado ao testemunho, ou lamentar a existência diante dos sofrimentos inevitáveis.

Indispensável a luta interior pela tua transformação moral para melhor.

Resgatando hoje, o amanhã surgirá pleno de bênçãos e, desde agora, experimentarás especial energia de paz, encorajando-te ao prosseguimento.

Robustece-te na fé ante a dor com a irrestrita confiança em Deus, tomando Jesus como o teu caminho para Ele, e não temas nunca!

Quando suceder a chegada do teu momento de sofrer, alegra-te e avança em paz.

Assim agindo, já estás com a alma iluminada pela sublime claridade do amor de Jesus.


Joanna de Ângelis

Psicografia de Divaldo Pereira Franco, em sessão mediúnica da noite de 15 de junho de 2011, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.

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