Antigamente, no mundo ocidental, a saúde era considerada como resultado do bom funcionamento do conjunto de órgãos do nosso corpo. Esta ainda é a concepção predominante, e os métodos mais usados pela medicina tradicional - o bombardeio químico ou a intervenção cirúrgica - revelam que ela encara o corpo humano como uma simples máquina.
Muito mais antigamente, no entanto, no Oriente, já se compreendia a saúde como resultado de um equilíbrio entre o corpo e o Espírito, ambos importantes e inter-relacionados de maneira tão estreita, que se podia agir com o corpo e atuar na mente ou, usando a mente, comandar o corpo.
Cada vez mais, a experiência demonstra que esta última é a hipótese válida. Os médicos vão compreendendo que é impossível curar verdadeiramente uma doença agindo sobre sua manifestação externa, visível, física, pois suas raízes são muito mais profundas: encontram-se a nível mental, emocional, espiritual (ou como diríamos nós, espíritas, a nível perispiritual e espiritual).
A cura, como se pode ver, não é então um simples ato mecânico. Não basta resolver os sintomas observáveis de um mal para que ele desapareça, se sua causa está num desequilíbrio muito mais profundo, entre o Ser e as leis naturais. A cura, como se pode ver, depende também do doente querer, desejar e procurar reequilibrar-se psíquica e espiritualmente, razão pela qual Jesus dizia: Vai, e não peques mais.
Sem colaboração do enfermo, o médico (ou curador, de maneira geral) nada pode fazer, a não ser, quem sabe, proporcionar um certo alívio.
Esta maneira de entender o processo de cura também conduz a uma compreensão totalmente nova do papel do curador. Em geral, as pessoas se impressionam enormemente com aqueles que possuem, ou a mediunidade de cura, ou um poder magnético próprio capaz de eliminar enfermidades.
Estas curas ainda são consideradas milagres, os que as obtém são considerados santos ou missionários, tudo é levado para o terreno do mágico e do maravilhoso.
O que as pessoas se esquecem é de que milagres são simplesmente eventos cujas causas não entendemos, como um grupo de indígenas boquiabertos perante um Caramuru que ateia fogo na água.
A enfermidade é um estímulo evolutivo, um modo de perceber que estamos agindo contra as leis naturais, e de nos reencontrarmos com elas. Todo mal contém uma lição, se estamos receptivos para assimilá-la. É um período de auto-educação, que podemos prolongar ou encurtar, dependendo da nossa atitude mental.
O curador, na verdade, não cura, mas é um facilitador do processo de autocura, da mesma forma que o professor não educa, mas é um facilitador do processo de auto-educação.
O seu poder não é ilimitado, pois depende da necessidade, merecimento e fé do paciente.
O curador não realiza a cura, ele funciona como um agente catalisador de recursos curativos, os quais poderão ser bem ou mal aproveitados pelo enfermo, de acordo com sua condição emocional, mental, espiritual.
O dom de curar, então, não existe? Bem... como capacidade de aliviar os sofrimentos, ele existe, sim, dentro de cada um que tem amor e compaixão pelo seu semelhante. A eficácia do passe demonstra isto na rotina dos centros espíritas.
Como poder de liberação definitiva dos males físicos e espirituais, no entanto, ele está em cada ser humano, para ser exercitado em favor de si mesmo, na própria transformação interna para melhor.
RITA FOELKER
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