"BEM OPORTUNA AS COLOCAÇÕES
DE RAUL TEIXEIRA, PARA NÓS QUE
BUSCAMOS O TRABALHO NA DOUTRINA"
VAMOS RELER VÁRIAS VEZES O TEXTO,
E BUCARMOS A CONSCIENTIZAÇÃO
DE NOSSAS PRÓPRIAS VERDADES.
Raul Teixeira responde
Revista O Consolador nº 222
– Muitos companheiros têm nítida percepção de que está havendo, no
movimento espírita, a diminuição no número de companheiros realmente
engajados no Espiritismo, que nele assumem compromissos. Será exagero
pensar que muitas pessoas, embora se afirmem espíritas, estejam dando
mais atenção à vida material do que à vida espiritual?
Raul Teixeira:
Tal percepção corresponde à mais transparente realidade, no
momento humano que se vive no planeta.
O materialismo, contra cujas propostas perigosas o Espiritismo
chegou ao mundo, vem ganhando terreno em todos os arraiais da
humanidade, por mais lamentável que isso possa parecer.
Havendo as religiões, na feição humana das suas lideranças,
assumido acordos de complacência ou de condescendência com as
insinuações mundanas do imediatismo, do lucro material supostamente
justificado (assistência social, caridade material etc.), das posições
diretivas, muitas vezes bastante lucrativas psicológica ou
fisicamente, acabaram por cochilar e não perceber que a hidra
devoradora penetrava sorrateira, mas com disposição, os nossos
arraiais.
Começamos a ter muito mais reuniões para discutir maneiras de
conseguir dinheiro e haveres para a manutenção física das
instituições, do que para estudar o Espiritismo e refletir a respeito
do seu papel em nossas existências.
Passamos a disputar os cargos institucionais com acirramento, a
fim de administrar os recursos que angariamos (supondo poder fazê-lo
melhor que os demais companheiros), e deixamos de lado os cuidados com
o direcionamento espírita do nosso Movimento.
Essa visão imediatista do mundo em geral, sem dúvida, foi
diminuindo o fervor, o ardor da fé, o que víamos em médiuns como
Yvonne Pereira e em Chico Xavier; acompanhamos a diluição da lucidez
argumentativa, que encontrávamos nos raciocínios de Deolindo Amorim,
de José Herculano Pires ou de Carlos Imbassahy – apenas para citar
alguns dos mais públicos, mais conhecidos servidores do Espiritismo –
que, com certeza, são desconhecidos pelas novas gerações de espíritas
que, quando muito, já ouviram alguma referência sobre eles.
Os trabalhos devotados de ensino espírita ou evangelização; a
vontade férrea e ardiloso de modificar a si mesmo; as atividades da
desobsessão de qualidade; as reuniões de alentado estudo das obras
kardequianas, dos textos clássicos e dos livros da mediunidade
respeitável, bem como a abertura da tribuna espírita às mentalidades
sérias e comprometidas com o Ideal Kardequiano e o esmero na conduta,
identificador daqueles que levam a sério os áureos postulados do
Invisível, tudo isso foi ficando em segundo ou em terceiro plano, sob
argumentações simplistas de que não se deve ser ortodoxo, ou que não
se pode exagerar na dosagem espírita, para que não se façam fanáticos,
e por aí em diante. O resultado disso, a curto e médio prazos, não
poderia ser diferente do que se vê nos tempos de agora:
O descompromisso com o Espiritismo.
Assim, encontramos os centros espíritas abarrotados de gente, que
costuma ir para receber, para buscar passes e desencostos, para obter
mensagens dos seus falecidos e solução para problemas da vida
material. Porém, os que se prestam a fazer algo pelo bem, pelo socorro
aos semelhantes, os que se dedicam, envolvidos mesmo com a Causa
Luminosa do Consolador, cooperando com os esforços de Jesus Cristo –
de quem se fala muito pouco, aliás, como se fala bem pouco das obras
excelentes da Codificação Espírita – continuam sendo muito poucos;
continuam os de sempre que, embora o cansaço físico que chega com a
idade, permanecem íntegros e audaciosos, mantendo acesa a chama do
Ideal Espírita.
Em tempos em que prevalece nos campos da crença religiosa a
propalada teologia da prosperidade material – quando se deseja
alcançar um reino dos céus bem terreno, com muitos gozos e festas aqui
mesmo, na Terra – não é de admirar que essa tormentosa onda tenha
penetrado, por invigilância ou descaso nosso, os arraiais espíritas,
antes vivido com maior unção e responsabilidade.