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quinta-feira, 22 de março de 2012

A espiritualidade dos animais

O médico veterinário paulista Marcel Benedetti, que desencarnou em 2010, foi pioneiro no atendimento espiritual aos animais. Benedetti também foi um dos idealizadores da ASSEAMA (Associação Espírita Amigos dos Animais) que realiza um trabalho relevante de conscientização. Leia entrevista exclusiva ao portal Nova Era, realizada em 2009.
A iniciativa sofre ou sofreu algum tipo de resistência do movimento espírita e/ou dos espíritas e espiritualistas?
(...) As pessoas contrárias aos tratamentos espirituais em animais não levam em consideração os resultados nem o consolo preconizado pelo Espiritismo. Pois, embora os animais não entendam integralmente o que lhes acontece, as pessoas que se preocupam com eles sentem-se aliviadas também quando o sofrimento de seus amigos animais minora.
Entre os espiritualistas encontramos mais apoio do que dentro do próprio movimento espírita. Parece estranho, mas é a realidade, e é possível que aconteça algo de que talvez o movimento se arrependa depois, isto é, eu creio que outras doutrinas possam vir a acolher o tratamento espiritual aos animais enquanto algumas pessoas do movimento espírita se distraem com seu orgulho. Sabemos que não importa quem trabalhará com eles, os animais, a fim de lhes aliviar o sofrimento, mas seria interessante que o Espiritismo fizesse isso, uma vez que a iniciativa partiu de dentro do movimento espírita.
Mas percebo que aos poucos a resistência está cedendo. Ha instituições que abominavam nossos livros, agindo como se fossem a Igreja de outrora. Isso me dava a impressão de que se recriaria o Index proibitorum. Exageros à parte percebo que logo as coisas devem mudar para melhor...
Quais são os casos e/ou sintomas dos animais que são levados à ASSEAMA? Comente, por favor.
Em geral, aparecem animais que são levados depois de terem passado por diversos tratamentos físicos, sem sucesso. Os mais comuns são os cânceres e problemas ortopédicos graves, em que a eutanásia já havia sido aventada pelos médicos que os tratavam. Mas surgem animais com problemas dos mais diversos, incluindo os de origem emocional, gerados por energias adversas criadas no ambiente doméstico. Estes são os mais difíceis de tratar, pois envolvem mudanças energéticas do ambiente em que as pessoas, necessariamente, precisam mudar os seus modos de pensar e agir.
Animal sofre a chamada obsessão?
Não como acontece com as pessoas, mas como uma forma indireta de atingir as pessoas do ambiente em que vive o animal, o qual, comumente, é muito querido pelas pessoas atingidas.
Em geral, os espíritos de baixas vibrações contaminam o ambiente doméstico com energias muito densas, que atingem os animais como se fossem petardos que os ferem profundamente, a ponto de adoecerem. É por isso que o ideal seria que as pessoas realmente se comprometessem com o tratamento, que tem muito a ver com elas também. Algumas não aceitam que haja uma parcela de responsabilidade nos processos patológicos que acometem os animais domésticos ou próximos.
Então, de modo indireto acabam por sofrer obsessões, mas não acontece como se fossem escudos protetores de seus tutores (chamamos de tutores os que antes eram chamados de donos), poupando sofrimentos. Na verdade todos sofrem, incluindo o animal, que é a mais inocente das vítimas.
Qual a história mais interessante, ou mais de uma, de que você se lembra, sobre o trabalho de tratamento espiritual desenvolvido pela ASSEAMA?
A mais interessante e a mais comentada é a que se refere à cadelinha Natasha, porque foi a primeira que se sobressaiu e chamou a atenção das autoridades científicas para o fato das curas espirituais. Natasha foi encontrada abandonada, com diversas enfermidades, incluindo um câncer, que, segundo um professor de uma universidade importante de São Paulo, não lhe permitiria uma sobrevida de mais de uma semana. O animal se curou do câncer (há comprovação laboratorial) em 3 meses, e viveu ainda mais um ano, quando morreu repentinamente, sem estar doente. Acho que era sua missão chamar a atenção da ciência.
Assim como a história dela há inúmeras outras interessantes, como a de uma cadelinha que, também indicada para eutanásia, se recuperou da paraplegia e andou, contrariando todas as expectativas médicas. Poderíamos ficar horas relatando casos.
Em sua opinião, por que ainda existe um desrespeito tão grande em relação aos animais e, por parte dos espiritualistas, uma falta de compreensão maior a respeito da alma dos animais?

Apesar de o assunto não ser novo, isto é – o assunto “espiritualidade dos animais” não é novo – as pessoas o encaram dessa forma porque os animais são considerados seres de segunda categoria. Ainda assim, creio que a consciência em relação a eles, no que se refere a serem nossos irmãos, está alcançando patamares mais elevados em menos tempo do que aconteceu, por exemplo, com as mulheres, negros e escravos, que eram considerados seres de segunda categoria e, portanto, descartáveis.
Em 1866, Kardec precisou publicar um artigo na Revista Espírita para explicar que as mulheres e os negros tinham alma, assim como qualquer homem branco. Os negros e as mulheres ainda eram considerados como se fossem animais, e os animais eram considerados como objetos (ainda são assim considerados legalmente). Não é triste saber disso? Entretanto, as pessoas, apesar dos pesares, começam a perceber as coisas, pois a própria ciência está demonstrando que os animais não são tão diferentes de nós como pensávamos. O DNA dos chimpanzés é apenas 1,2% a menor que o nosso. As seis barreiras que nos separavam dos animais a ponto de considerá-los irracionais se romperam, pois se sabe, hoje, que os animais pensam, sentem e são conscientes quanto ao que acontece ao seu redor. Eles transmitem cultura aos seus descendentes. Além disso, a ciência mostrou que eles captam nossos pensamentos por telepatia. Imagine o sofrimento de um animal que está prestes a ser abatido, ao ler o pensamento de seu algoz.
Creio que em breve a ciência – e não a doutrina ou as doutrinas espiritualistas – promoverá os animais a ponto de considerar que eles merecem o melhor de nós, e que deveríamos cuidar deles como irmãos mais velhos que somos, e não explorá-los como mercadorias.
Para um público leigo, já que esta entrevista é publicada em vários meios, como você pode explicar a existência da alma dos animais, para que não exista confusão com a metempsicose?
O termo metempsicose se refere à possibilidade de a alma de um ser humano que morreu retomar um corpo físico em alguma categoria inferior da evolução, em um corpo de animal, por exemplo. Seria como se as águas de um rio pudessem subir contra a corrente e voltar à nascente. Isso vai contra diversas leis naturais. Seria como se um estudante de medicina que fosse reprovado em Fisiologia tivesse que voltar ao curso primário, para começar tudo outra vez até aprender Fisiologia. Seria perda de tempo. O ideal seria repetir apenas a matéria de Fisiologia e estacionar no curso, temporariamente.
A alma do animal é semelhante a qualquer outra, de qualquer outro ser do Universo. Nada nos diferencia desses espíritos, que hoje estagiam na fase de animalidade, exceto pelo fato de que temos consciência de Deus e eles ainda não a têm.
Mas somos todos espíritos em evolução. Poderíamos fazer uma comparação com os estudantes: nós somos aqueles que estão no curso superior (no meio do curso, pois ainda falta muito para nos formarmos), enquanto esses outros espíritos – hoje na fase de animais – estão talvez no curso médio. Os vegetais, talvez no curso básico; e os minerais, no “prezinho”. Um dia seremos arcanjos, e os outros seguirão os mesmos caminhos que nós. Se os auxiliarmos, estaremos não somente ajudando-os a evoluir, mas também a nós, pois estaremos pondo em prática o que aprendemos sobre caridade e amor ao próximo. Jesus disse para amarmos o nosso próximo, e os animais são nossos irmãos (filhos do mesmo Pai), e Gandhi disse que tudo o que vive é nosso irmão.
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