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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

CIENCIA E MEDIUNIDADE PARTE II

Outro estudioso que se dedicou aos temas ocultos foi o psiquiatra su�o Carl Gustav Jung (1875-1961), autor de Sobre a Psicologia e a patologia dos fen�menos chamados ocultos. Como Janet, explicou a comunica�o com os esp�ritos a partir do subconsciente. "A grande maioria das comunica�es tem origem puramente psicol�gica e s� aparece personificada porque as pessoas n�o t�m no�o nenhuma da psicologia do inconsciente", escreveu. Por�m, outros escritos revelam que ele tinha d�vidas quanto � origem dessas manifesta�es: "Para mim, elas s�o inexplic�veis e sou incapaz de decidir a favor de qualquer uma das interpreta�es usuais."

Na experi�ncia medi�nica, haveria uma desagrega�o de "complexos ps�quicos", o que dependeria de certa predisposi�o. Com a pr�tica da capacidade dissociativa, haveria cada vez mais elabora�o das manifesta�es medi�nicas.

Assim, os esp�ritos se multiplicam. Outro elemento que tamb�m explicaria o transe � o chamado "aumento do rendimento inconsciente", ou seja, "aquele processo autom�tico cujo resultado n�o est� ao alcance da atividade ps�quica consciente do respectivo indiv�duo". Como a manifesta�o do inconsciente, o m�dium pode exibir uma intelig�ncia superior, como ter acesso a informa�es n�o dispon�veis na vig�lia.

Jung pondera a possibilidade de que a personalidade comunicante seria a personifi- ca�o de um arqu�tipo ou realmente um esp�rito: "No caso de Betty (personalidade que se comunica), tenho d�vidas em negar sua realidade como esp�rito; isto significa que estou inclinado a aceitar que ela seja mais provavelmente um esp�rito do que um arqu�tipo, ainda que represente supostamente as duas coisas ao mesmo tempo. Parece-me que os esp�ritos t�m uma tend�ncia cada vez maior de se aglutinar aos arqu�tipos."

Com os estudos de neurologia surgidos na d�cada de 1870, os pesquisadores William Hammond e George Miller Beard destacaramse na tentativa de demonstrar que o fen�meno do transe tinha causas org�nicas. Acrescentando novos elementos ao discurso hegem�nico, defenderam a tese de uma vida involunt�ria, semelhante ao conceito de subconsciente no qual poderia aflorar com uma disfun�o cerebral. Outro te�rico da �poca foi o m�dico criminologista Cesare Lombroso (1835-1909), autor de Hipnose de mediunidade (1909). Ao sondar o tema com a m�dium italiana Eus�pia Paladino, concluiu que os m�diuns tinham comportamentos hist�ricos.

A vertente que tomou como patol�gica as viv�ncias medi�nicas considerava as pessoas fr�geis e inst�veis emocionalmente um alvo f�cil da doutrina esp�rita. Os estudos se concentraram nas mulheres, por serem mais suscet�veis � histeria e mais propensas a desenvolver doen�as mentais. E, de fato, a maioria dos m�diuns era mulher. A convers�o � doutrina ocorreria em marcos de fase reprodutiva, como puberdade, ap�s o nascimento do filho e na menopausa. Vale lembrar que o pensamento surgiu numa �poca em que a mulher passou a se manifestar a favor do sufragismo, do socialismo e das reivindica�es trabalhistas - o que oferecia uma amea�a ao status quo.

� verdade que mesmo os praticantes da doutrina levantam a possibilidade de existir um grupo de risco predisposto a apresentar del�rios ao serem instigados pela pr�tica religiosa. Isso serviu de argumento para a Psiquiatria que logo tomou o "del�rio esp�rita" como uma varia�o da loucura religiosa. "A mediunidade constitui o elemento predominante do del�rio.

Aqui, o espiritismo foi somente sua causa ocasional, dando-lhe forma � possess�o demon�aca", escreveu o psiquiatra franc�s Joseph Levy-Valensi (1879-1943), autor de Spiritisme et folie. Ele ainda completa: "O del�rio esp�rita � um del�rio alucinat�rio. A alucina�o � somente o grau extremo do desdobramento da personalidade. N�o constitui uma classe especial de del�rios, mas um cap�tulo da loucura religiosa."

No Brasil, os psiquiatras mais cr�ticos ao espiritismo eram cat�licos, o que explica por que muitas das teses defendidas assumiram car�ter teol�gico. A discuss�o do espiritismo e da sa�de mental seguiu com base nas defesas elaboradas pelos m�dicos e psic�logos europeus. O psiquiatra carioca Henrique Belford Roxo (1877-1969) chegou a criar uma classe diagn�stica, o "del�rio esp�rita epis�dico", caracterizada por alucina�es que surgiam nos praticantes do espiritismo.

O del�rio seria resultado de um choque emotivo que d� origem a uma alucina�o breve, que se diferencia da esquizofrenia, da parafrenia e da psicose man�aco-depressiva. Esses casos representariam, segundo ele, 10% das interna�es.

O embate entre psiquiatras e esp�ritas perdeu for�a ap�s a d�cada de 1950. Nos anos seguintes, surgiu a abordagem transcultural que adotava uma vis�o mais antropol�gica acerca do tratamento dos dist�rbios mentais. Essa abordagem rompeu com o etnocentrismo, afirmando-se sens�vel �s diferentes realidades nas quais ocorre o adoecimento ps�quico e incorporando concep�es populares sobre a doen�a no processo terap�utico. Nesse caso, a religi�o come�ou a ser vista mais como um aux�lio ao tratamento do que algo a ser combatido.

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